domingo, 29 de agosto de 2010

Ben X (2007)

Género: Drama
Realizador: Nic Balthazar
Com: Greg Timmermans, Marijke Pinoy, Laura Verlinden e Cesar de Sutter, entre outros.
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Poster encontrado aqui.

Ben é um adolescente a quem foi diagnosticado o Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. A vida de Ben não é fácil. Para além da sua condição, Ben é diariamente alvo de troça e abusado pelos seus colegas, na escola que frequenta. O único escape do jovem é um jogo de computador online, Archlord, onde é respeitado pelo estatuto que conseguiu alcançar dentro deste, fruto da sua dedicação. É ainda neste universo paralelo que Ben conhece a jovem que se esconde por trás do avatar de nome Starlite, e que é para Ben uma verdadeira amiga. Mas tudo isto não passa de um analgésico para a dor cada vez mais insuportável de Ben. E Ben decide então traçar um plano para acabar com o seu sofrimento.

"Ben X" é um filme holandês. O seu título têm origem na forma como é pronunciado na sua língua nativa, "Benniks", que significa "Eu não sou nada". Não se pode dizer que o argumento seja propriamente original, pois é a história de um rapaz que é vítima de bullying na escola, e que é incapaz de fazer frente aos seus agressores.


Mas este filme acrescenta algo mais a esta premissa múltipla vezes revisitada no cinema. O facto de o jovem sofrer de uma condição - Asperger - que lhe impõe limitações adicionais aumenta ainda mais a nossa empatia pela personagem. Por último, o filme dá-nos também um ligeiro olhar sobre o universo dos jogos online, frequentemente encarados pela sociedade quase como a origem de todos os males, mas que é para o jovem autista o único lugar onde ele se sente completamente realizado.

O realizador está também de parabéns pela forma como conjugou todos os aspectos do enredo. Nic Balthazar consegue, de uma forma subtil, embalar-nos ao longo de todo o filme, mantendo-nos atentos em frente ao ecrã. Balthazar consegue (ou pelo menos tenta) mostrar-nos de perto a mente de uma pessoa com Síndrome de Asperger, com uma grande atenção aos pormenores que se reflecte nos diálogos - e monólogos - e nas acções das personagens. Mas dá-nos também uma visão crua do bullying, com algumas cenas que, sem nunca serem propriamente explícitas ou violentas, nos deixam a reflectir sobre o assunto. Por último, o filme parece caminhar previsivelmente para um determinado desfecho, mas o realizador consegue, de uma forma muito competente, introduzir um twist que apanhará certamente todos de surpresa, e que constitui mais um dos motivos de interesse deste filme.

Obviamente que isto só seria possível com um bom desempenho dos actores, e estes não desapontam, apesar de serem completos desconhecidos e de, muitos deles, participarem pela primeira vez numa longa metragem. Greg Timmermans tem uma performance memorável, salvo algumas (poucas) cenas que parecem um pouco forçadas, e a espaços quase questionamos se estamos a ver um filme ou se são cenas reais. O resto do elenco está também muito bem, mas como "Ben X" gira em torno da personagem principal não vejo razões para destacar um ou outro actor secundário.


Em suma, "Ben X" é uma obra realizada com muito cuidado, resultando num filme surpreendentemente belo tendo em conta a sua carga dramática e o tema que aborda. Greg Timmermans é a figura de proa de um elenco muito competente que, em conjunto com o realizador e restantes equipas técnicas, nos proporcionam um bom momento de cinema. Apesar de não receber a minha classificação máxima, é ainda assim um filme que não tenho qualquer dúvida em recomendar.

O melhor: um estudo sobre o Síndrome de Asperger, o bullying e a obsessão pelos videojogos.
O pior: tratando-se de um filme numa língua que nem toda a gente domina, ficou arredado dos circuitos habituais do cinema e muita gente não o pôde apreciar.
Alternativas: Rain Man (1988), What's Eating Gilbert Grape (1993), Forrest Gump (1994)

Classificação IMDB: 7.6/10
Classificação RottenTomatoes: 6.3/10
Classificação MovieReviews.com: 3.8/5

A minha classificação:

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cthulhu (2007)

Poster do filme Cthulhu
Género: Drama/Horror
Realizador: Dan Gildark
Com: Jason Cottle, Dennis Kleinsmith, Cara Buono e Tori Spelling, entre outros.
Página oficial
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Poster encontrado aqui.

Russ é um bem sucedido professor de História na Universidade de Seattle, que se vê forçado a regressar a Rivermouth, a cidade onde nasceu, para acompanhar o funeral da sua mãe. Em Rivermouth, Russ reencontra a sua família, de quem se afastou após assumir a sua homossexualidade, principalmente devido à postura do pai, líder de um obscuro culto religioso, que nunca aceitou as suas acções. Mas algo de sombrio parece envolver a cidade, que vem sendo assolada pelo desaparecimento de várias pessoas nos últimos tempos, e apesar de desejar abandonar rapidamente esta localização e as recordações que ela carrega, Russ sente um ímpeto para descobrir o que se passa em Rivermouth.

"Cthulhu" é um filme que se baseia num dos romances de H.P. Lovecraft, "The Shadow Over Innsmouth". Porém, esta adaptação não faz jus àquele que é por muitos considerado o maior escritor de horror de todos os tempos, uma vez que só a espaços se conseguem identificar alguns dos traços que caracterizam as suas obras.

O orçamento deste filme é bastante reduzido, o que se reflecte em vários aspectos. O elenco é um deles, sendo constituído maioritariamente por actores desconhecidos do grande público, muitos deles amadores, com uma ou outra cara conhecida de talento duvidoso - sim, Tori Spelling, estou a olhar para ti. As performances são sofríveis, à falta de melhor palavra, fruto da inexperiência óbvia dos actores, o que nos faz torcer o nariz na maioria das cenas deste "Cthulhu". Ainda pior é a falta de empatia despertada pelo protagonista, o que o torna cada vez mais aborrecido à medida que o filme avança.

Jason Cottle é Russ em Cthulhu

O baixo orçamento tem também um impacto significativo na fotografia do filme, que em algumas situações parece ter sido filmado por uma qualquer câmara de vídeo de uso familiar. Este efeito nem sempre é negativo, e alguns filmes como "The Blair Witch Project" ou "Cloverfield" tiram inclusivamente partido das suas particularidades, sendo que neste "Cthulhu" isto nem é despropositado de todo. Porém, nota-se claramente que foi uma solução de recurso e que o filme ganharia com uma maior atenção a este pormenor. Adicione-se a isto uma edição defeituosa e apressada, que faz com que algumas cenas pareçam desconexas entre si, e facilmente se conclui que será difícil apreciar este filme.

Felizmente nem tudo é mau neste "Cthulhu". De facto, o ambiente sombrio da cidade onde se desenrola a história traz algum interesse ao filme e, de uma forma geral, os cenários estão bastante bons, com uma grande atenção aos pormenores em algumas cenas. Nota-se também um esforço do realizador em criar uma atmosfera de tensão em redor da película, e há um par de situações que são capazes de nos fazer saltar das cadeiras. Mas eu não usaria a palavra "assustador" para categorizar este filme. "Cthulhu" é um filme quase sinistro, que nos deixa a pensar naquilo que se poderá estar a passar nas sombras, naqueles lugares remotos que ninguém conhece, ou simplesmente naquelas populações isoladas de tudo o resto.

Tori Spelling participa em Cthulhu

Fica-me a impressão de que o realizador e os produtores fizeram tudo aquilo que estava ao seu alcance para extrair o máximo de um orçamento que já era, à partida, demasiado curto. Por causa deste, "Cthulhu" não tem no seu elenco grandes actores, e os aspectos técnicos deixam muito a desejar. O filme vê-se obrigado a relatar e descrever eventos, sem nunca os poder mostrar por não possuir meios para tal. Por tudo isto, "Cthulhu" ganhou a minha simpatia. "Cthulhu" não é um bom filme, é até muito fraco em vários aspectos, e por isso não o posso recomendar sem sentir um peso na consciência, mas este filme não me deixou completamente indiferente depois da sua visualização. E bem lá no fundo é esse o objectivo do cinema, certo?

O melhor: a atmosfera sombria do filme.
O pior: prestações do actores muito fracas.
Alternativas: Dagon (2001), The Call of Cthulhu (2005), The Mist (2007)

Classificação IMDB: 4.6/10
Classificação RottenTomatoes: 5.4/10
Classificação MovieReviews.com: 2.3/5

A minha classificação:
Duas estrelas em cinco

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

The Spirit (2008)

Poster do filme The SpiritGénero: Acção/Thriller/Fantasia
Realizador: Frank Miller
Com: Gabriel Macht, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson e Eva Mendes, entre outros.
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Poster encontrado aqui.

Central City é uma cidade que vive mergulhada no medo. As ruas são um terreno fértil para a desordem, a violência e o caos, e é aqui que o insano Octopus é rei e senhor, com a companhia da sedutora Silken Floss, uma mulher que tem tanto de bela como de perigosa. Nunca ninguém conseguiu ver a face de Octopus e sobreviver para o contar. A polícia mostra-se impotente perante esta ameaça, e a única figura que parece ser capaz de evitar a perda total da cidade é um misterioso e enigmático homem disfarçado, que dá pelo nome de The Spirit.

"The Spirit" é um filme que conta com um elenco de luxo. Para além de Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson ou Eva Mendes, que dispensam apresentações, encontramos muitas outras caras conhecidas como Sarah Paulson, Louis Lombardi ou Paz Vega, só para mencionar algumas. O filme é protagonizado por Gabriel Macht, um actor provavelmente desconhecido pela maioria da audiência e que está há relativamente pouco tempo no mundo do cinema, mas que já nos ofereceu algumas boas performances, nomeadamente em "A Love Song for Bobby Long" e no mais recente "One Way to Valhalla". A adicionar a isto temos o conceituado Frank Miller como realizador, um homem mais conhecido pelo seu trabalho enquanto argumentista e autor de bandas desenhadas, mas que já mostrou em "Sin City" que é bastante competente atrás da objectiva.

No entanto, "The Spirit" é a prova de que não basta juntar grandes nomes para obter um bom filme. De facto, consigo lembrar-me assim de repente de alguns filmes que contaram com um grande elenco e que falharam miseravelmente - "Batman & Robin", "Alexander" ou "Ocean's Twelve", só para citar alguns - mas este "The Spirit" é bem pior que a maioria deles. Mas vamos por partes.

Gabriel Macht é o protagonista em The Spirit
Visualmente, o filme desperta sentimentos distintos em diferentes segmentos da audiência. O seu ambiente noir, em que os tons vermelhos ganham um especial destaque, semelhante aquele que encontramos em "Sin City", não agradará a toda a gente, certamente. Eu, pessoalmente, gostei, e por isso destaco este aspecto como positivo.

Também o humor negro e a violência exagerada, sempre presentes nas obras de Frank Miller, encontram aqui um veículo para se exprimirem. Se em relação ao primeiro destes aspectos não tenho nada a referir, para além de saudar a sua inclusão, já o segundo deixa-me com um pé atrás. Na minha opinião houve aqui uma falta de tacto, ou um excesso de pretenciosismo, pois muitas das cenas que apresentam à partida potencial para se tornarem memoráveis acabam por se revelar de qualidade muito duvidosa, com um tipo de humor que eu só pensava que era utilizado nos filmes para crianças. Consegue imaginar uma cena em que os dois personagens principais lutam de uma forma brutal para, de repente e saído do nada, um deles pegar numa sanita (sim, leu bem, uma sanita) e quebrá-la na cabeça do outro, ficando este imobilizado quando esta desliza pelo seu corpo, tal como nos desenhos animados onde um pneu é utilizado frequente com o mesmo efeito? E se este ripostar arremessando um lavatório de casa de banho à cabeça do outro? Pois, isto mais parece saído de um qualquer cartoon de qualidade duvidosa...

Adicione-se a isto uma mão cheia de cenas que retiram credibilidade a este "The Spirit" - a título de exemplo, refiro uma cena em que duas personagens se encontram num pântano, com água abaixo da linha da cintura, e que depois mergulham, no mesmo local, a vários metros de profundidade - o que influencia de forma significativa o resultado final deste filme em termos de qualidade.

The Spirit conta com as participações de actores como Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson e Louis Lombardi
No meio disto tudo, os actores acabam por até ser um mal menor. As suas performances estão a léguas do melhor que eles nos podem oferecer, mas ainda assim são suportáveis e algumas, a espaços, mostram alguns rasgos de verdadeira qualidade. Eva Mendes é, na minha opinião, aquela que apresenta um pior desempenho de entre as principais figuras do elenco. O principal problema é que o elenco nunca funciona como um todo. Este é um dos casos em que o todo é inferior à soma das partes.

Resumindo, "The Spirit" é um filme que não compensa o tempo investido na sua visualização. Frank Miller deve focar-se na escrita, onde é realmente um fora de série, e deixar a realização para os verdadeiros profissionais. "The Spirit" é, por estas razões e por muitas mais, um filme a evitar.

O melhor: o ambiente noir e o humor negro.
O pior: muito fraco em termos qualitativos.
Alternativas: Sin City (2005), The Dark Knight (2008), Watchmen (2009)

Classificação IMDB: 4.9/10
Classificação RottenTomatoes: 3.5/10
Classificação MovieReviews.com: 2.6/5

A minha classificação:Duas estrelas em cinco

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

The Caller (2008)

Poster do filme The CallerGénero: Drama/Thriller
Realizador: Richard Ledes
Com: Frank Langella, Elliott Gould, Laura Harring e Anabel Sosa, entre outros.
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Quando Jimmy Stevens, director financeiro de uma gigantesca multinacional, decide denunciar as atrocidades cometidas pela empresa em inúmeros países do Terceiro Mundo, ele sabe que pagará com a vida esta acção. Quando confrontado, perfeitamente consciente da sua sorte, ele tem apenas um pedido: mais duas semanas de vida. Jimmy contrata então um detective privado, Frank Turlotte, contactando-o através de um telefone, utilizando um nome falso e disfarçando a voz, dando-lhe simples instruções: deverá observar Jimmy Stevens e descobrir tudo o que puder sobre a vida dele.

"The Caller" é um filme com um argumento bastante denso, e que não é fácil de digerir, especialmente durante a primeira metade do filme. Isto deve-se a, essencialmente, dois aspectos: o ritmo, lento mas adequado, com várias cenas quase de contemplação, repletas de mensagens subliminares que facilmente escapam ao espectador mais distraído, numa tentativa de captar a audiência ao forçá-la a procurar decifrar o que se está a passar em frente aos seus olhos; em segundo lugar, pela mistura de duas histórias em espaços temporais diferentes, aparentemente desconexas.

Imagem de Frank Langella no filme The Caller
Porém, quando o filme atinge a sua metade, tenho a certeza que já uma grande parte da audiência colocou de lado as expectativas que poderia ter de assistir a um filme de boa qualidade. A lenta progressão do argumento será sem dúvida um dos aspectos, mas na minha opinião uma das principais lacunas é a falta de carisma das personagens. Nunca, em todo o filme, temos um sentimento de pena por Jimmy, que tem a sua morte anunciada. E Turlotte, uma personagem que é uma verdadeira caricatura do estereótipo do clássico detective privado de meia idade, também nunca consegue ser levado a sério. As personagens secundárias tem todas elas papéis que também estão a milhas de poderem ser recordados no futuro, perdendo-se na mediocridade. Mas ressalvo que, na minha opinião, estes problemas estão mais relacionados com a direcção - responsabilidade do realizador - do que com os actores em si.

Fica de facto no ar a sensação que este filme podia ser bastante melhor do que aquilo que é, houvesse vontade e motivação por parte de todas as partes envolvidas. Frank Langella não encontra em "The Caller" um dos seus melhores momentos na sua já longa carreira como actor, mas ainda assim consegue ser o principal motivo de interesse, fruto de toda a experiência que adquiriu ao longo dos anos.

"The Caller" é um filme que acaba por valer mais pelas questões que levanta e pelo estudo das reacções das personagens, do que pelo seu argumento. 'O que é que uma pessoa faz quando sabe que vai morrer?' é uma pergunta que se tem que colocar nesta situação, e é a premissa de onde o argumentista parte para criar uma história. Mas o filme não é muito mais do que isso. "The Caller" é uma série de metáforas sobre vários aspectos da vida, onde as personagens não são mais que veículos para este objectivo.

Frank Langella e Elliot Gould no filme The Caller
Em suma, "The Caller" poderá ser um filme interessante para uma reduzida franja da audiência, mas poderá ser ignorado sem qualquer remorso pela grande maioria. A minha opinião? Há muitas alternativas melhores...

O melhor: as sequências com as pequenas crianças italianas.
O pior: personagens sem carisma; sem nenhuma cena especialmente marcante.
Alternativas: The Conversation (1974), The Constant Gardener (2005), Michael Clayton (2008)

Classificação IMDB: 5.8/10
Classificação RottenTomatoes: 4.4/10
Classificação MovieReviews.com: 2.8/5

A minha classificação:Duas estrelas em cinco