domingo, 19 de dezembro de 2010

Mr. Nobody (2009)

Género: Drama/Sci-Fi
Realizador: Jaco Van Dormael
Com: Jared Leto, Diane Kruger, Sarah Polley e Rhys Ivans, entre outros.
Página oficial
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Estamos em 2092. Com 120 anos, Nemo Nobody é o homem mais velho do mundo. Mais do que isso, o senhor Nobody é o último mortal numa sociedade que descobriu como viver eternamente. Mas nada disso o preocupa. Um dia, um jornalista consegue esgueirar-se até ao quarto de Mr. Nobody, no hospital. Levado pela curiosidade do jornalista, ele conta-lhe as histórias das suas vidas. Três vidas distintas, das quais ele não consegue escolher uma. A única questão que lhe falta responder é se viveu uma boa vida, se amou a mulher que deveria amar e se teve os filhos que deveria ter tido.

"Mr. Nobody" é um daqueles filmes que nos faz reflectir durante e depois do filme, e que ganha uma nova perspectiva quando o vemos uma segunda vez. É um filme sobre as escolhas que fazemos nas nossas vidas, sobre o porquê de optarmos por uma ou outra coisa, sobre as consequências das escolhas e até sobre o facto de estarmos conscientes ou não das escolhas que fazemos. É uma viagem que nos transporta pelos segredos da psique humana, introduzindo conceitos como o Big Bang e o Big Crunch, a mecânica quântica e a teoria das cordas.


Mas não se assustem com tudo isto. Este não é um filme só para intelectuais e todos conseguem apreciar aquilo que ele tem para nos contar. Esteticamente perfeito e realizado com uma grande atenção ao pormenor, "Mr. Nobody" é sem dúvida um dos filmes mais surpreendentes que vi nos últimos tempos, e por isso só o posso recomendar. É um daqueles filmes que não tenho qualquer dúvida em colocar na minha colecção de DVDs.


O melhor: a forma como o realizador consegue interligar histórias que recuam e avançam na escala temporal, mantendo a coerência e o ritmo. 
O pior: o filme leva a audiência "demasiado pela mão", o que retira parte do efeito surpresa.
Alternativas: Der müde Tod (1921), Fight Club (1999), The Butterfly Effect (2004)

Classificação IMDB: 7.7/10
Classificação RottenTomatoes: 3.8/5
Classificação MovieReviews.com: 4.2/5

A minha classificação:

Saving God (2008)

Género: Drama
Realizador: Duane Crichton
Com: Ving Rhames, Dean McDermott, Dwain Murphy e Ricardo Chavira, entre outros.
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Armstrong Cane é um condenado por homicídio que, após quinze anos na prisão, está agora em liberdade condicional. Mas este Armstrong não é o mesmo homem que entrou na prisão. Nesse local ele encontrou-se consigo e com Deus e abraçou a vida religiosa tornando-se pastor. De regresso à sociedade, dirige-se ao bairro onde cresceu e reabre a igreja onde o seu pai, muitos anos antes, também fora pastor. Só que este não é um local fácil para um igreja, pois nas ruas reina a violência, e o tráfico de droga é a única forma que os jovens encontram para ganhar algum dinheiro.

"Saving God" é um filme que vai buscar inspiração a vários filmes de influência cristã, e isso verifica-se em vários aspectos. Mas "Saving God" tenta distanciar-se um pouco destes, apostando num argumento coeso e na construção das personagens. No entanto, continuam a estar presentes muitos dos elementos que tanto são criticados neste género de filmes, e que anulam qualquer elemento bem conseguido, nomeadamente a forma como estes filmes tentam passar a ideia de que é possível resolver tudo com a fé. Quando já tudo parece perdido, "Saving God" consegue surpreender-nos com a sua parte final, sem dúvida alguma a melhor parte do filme, se bem que termina com mais uma cena que me fez torcer o nariz.


Em suma, temos aqui um filme claramente dirigido para a franja cristã da audiência, mas que poderá também ser interessante para os amantes do género, independentemente da religião. Não deixará saudades, mas ainda assim é dos melhores na sua categoria. Experimente por sua conta e risco.


O melhor: quando não segue o rumo habitual deste género de filmes.
O pior: porque é que estes filmes continuam a retratar situações altamente immprováveis (para não dizer impossíveis) de acontecer?
Alternativas: Lilies of the Field (1963), Der Himmel über Berlin (1987), Dead Man Walking (1995)

Classificação IMDB: 5.8/10
Classificação RottenTomatoes: 3.4/5
Classificação MovieReviews.com: 3.7/5

A minha classificação:

E agora?

O tempo escasseia, mas a vontade de continuar a partilhar as minhas opiniões sobre alguns dos vários filmes que assisto não morreu.
Assim sendo, devido às limitações que a minha ocupação profissional me impõe, os próximos posts que aqui serão colocados terão um formato mais curto, pois é o único método que consigo para manter a Esquina do Imprevisto com alguma actividade.
Quando é que vou voltar ao formato anterior? Não sei. Nem sei se conseguirei voltar a ter a disponibilidade que tinha para lhe dar atenção. Mas uma coisa é certa, vou continuar a ver muito cinema!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bride Wars (2009)

Género: Comédia/Romance
Realizador: Gary Winick
Com: Kate Hudson, Anne Hathaway, Chris Pratt e Steve Howey, entre outros.
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Emma e Liv são amigas de infância, que cresceram juntas e que partilham um mesmo sonho: casar, em Junho, no luxuoso Hotel Plaza. Quis o destino que, no mesmo dia, os namorados de ambas as tenham pedido em casamento. Felizes e excitadas, as duas dirigem-se à mais famosa organizadora de casamentos da cidade, Marion St. Claire, para que esta tratasse de todos os detalhes das cerimónias, que se querem perfeitas. E o sonho de ambas parece estar pronto a concretizar-se, pois Marion consegue encaixar os casamentos em duas datas distintas, em Junho, na concorrida e praticamente completa agenda do Hotel Plaza. Só que a secretária de Marion comete um erro, e os dois casamentos ficam marcados para o mesmo dia, à mesma hora. Uma delas terá de abdicar do sonho que acalentou durante toda a vida, mas nenhuma dá o braço a torcer...

"Bride Wars" é um típico filme de domingo à tarde. Temos um pouco de tudo: elementos cómicos, situações caricatas, amor, amizade, lágrimas, e muita música, entre outras coisas. Mas vamos por partes.

Quando um filme deste género começa com duas grandes amigas com sonhos/ambições/sentimentos semelhantes, já sabemos que mais cedo ou mais tarde a coisa vai dar para o torto. É uma fórmula revisitada múltiplas vezes, mas que parece ainda assim agradar a uma vasta fatia da audiência. De vez em quando surge um ou outro filme que introduzem elementos originais, e que merecidamente se tornam quase uma referência neste género de filmes. Está "Bride Wars" neste grupo? Não, muito longe disso.


Não há propriamente nenhum elemento original neste filme. O filme está recheado de clichés, desde as personagens estereotipadas até às já clássicas montagens ao som da música. Junte-se a isto um enredo que, a espaços, parece quase errático, e temos o cenário montado para um desastre.

Por vezes os actores conseguem salvar um filme que parece condenado ao fracasso, brindando a audiência com performances de tal maneira brilhantes que acabam por compensar os elementos mais fracos. Mas em "Bride Wars" isso não acontece. Anne Hathaway ("Rachel Getting Married", "The Princess Diaries") tem um desempenho muito oscilante neste filme, alternando cenas bem conseguidas com outras em que não aparece tão bem, resultando numa performance final que cumpre os serviços mínimos, e que decerto a actriz não se gabará de a ter no currículo. Kate Hudson ("Almost Famous"), por seu lado, aparece bastante constante neste filme, mas muito longe de impressionar. Do resto do elenco não vale a pena falar, por tratam-se de personagens com papéis muito reduzidos.


"Há alguma coisa que valha a pena neste filme?", perguntarão os leitores. A música, apesar de cheesy, adequa-se perfeitamente a este "Bride Wars", com faixas que variam desde o pop ao clássico, passando pelo hip-hop ou pelo disco. E há, de facto algumas cenas interessantes. Não por qualquer rasgo de originalidade ou de génio, mas pura e simplesmente porque, naquela cenas, as coisas funcionaram todas em harmonia. A espaços o filme consegue sacar-nos algumas gargalhadas, e em momentos mais dramáticos quase nos consegue humedecer os olhos mas, na maior parte do tempo isto não acontece. O humor parece demasiado forçado em demasiadas situações, e até mesmo as actrizes parecem demasiado rígidas. Anne Hathaway, em particular, nem parece a mesma pessoa que foi nomeada para o Óscar de Melhor Actriz no ano anterior. E o que terá passado pela cabeça do realizador para acrescentar um pseudo-triângulo amoroso, totalmente despropositado e que não acrescenta nada ao filme, antes pelo contrário?

Não há mais nada que possa dizer sobre "Bride Wars". É um filme de um sub-género que parece estagnado num vazio de ideias, e que só agradará aos amantes mais fervorosos do género. Evite-o, na minha opinião, a menos que seja uma mulher que devore todo e qualquer filme sobre casamentos. Recebe duas estrelas na minha classificação, mas estive tentado a dar-lhe apenas uma.

O melhor: quando tenta ser um pouco mais sério e deixa a fantochada de lado.
O pior: Anne Hathaway desilude; argumento fraco e previsível.
Alternativas: Four Weddings and a Funeral (1994), My Best Friend's Wedding (1997), My Big Fat Greek Wedding (2002)

Classificação IMDB: 5.0/10
Classificação RottenTomatoes: 3.4/10
Classificação MovieReviews.com: 3.4/5

A minha classificação:

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Londoni Férfi (The Man From London) (2007)

Género: Drama/Crime
Realizadores: Béla Tarr e Ágnes Hranitzky
Com: Miroslav Krobot, Tilda Swinton, Erika Bók e István Lénárt, entre outros.
Trailer
Poster encontrado aqui.

Maloin trabalha numa estação de caminhos de ferro situada junto a um cais de desembarque de um ferry boat. A partir de uma cabine situada num ponto elevado, ele observa todo o cais enquanto controla os mecanismos necessários para os comboios trocarem de linhas. Mas numa determinada noite, a sua rotina foi interrompida. Sozinho na sua cabine, Maloin acompanha a saída dos passageiros do último ferry e repara em algo de estranho. Um dos passageiros sai do ferry, mas não segue o caminho habitual. Em vez disso, desloca-se até ao outro lado do cais e, uma vez lá chegado, acena para um outro homem que ainda estava no convés da embarcação. Este último atira-lhe uma mala e dirige-se então para a saída, enquanto o primeiro se retira para uma zona menos iluminada. Quando o segundo homem chega a este local os dois começam a discutir, discussão esta que rapidamente escala para uma luta. Um dos homens atinge o outro com um golpe que o deixa inconsciente, acabando este último por tombar para a água, afogando-se.

"A Londoni Férfi", ou no seu título em inglês, "The Man From London", é verdadeiramente um filme internacional: a dupla de realizores, bem como grande parte do elenco, são húngaros; o protagonista é checo e a escocesa Tilda Swinton ("Michael Clayton") também figura neste título; o francês e o inglês são as línguas faladas neste filme; e por último, a produção é tri-partida entre franceses, húngaros e alemães.

O reputado realizador húngaro volta a colocar-se por trás da objectiva neste filme, desta vez acompanhado pela sua esposa Ágnes com quem divide as tarefas da realização. Este filme é uma nova versão de um romance que já havia sido adaptado para o cinema por duas vezes, na já longínqua década de 40 do século passado. Béla Tarr continua a honrar o estilo que o tornou célebre, com um excelente trabalho de câmara e com imagens e segmentos de rara beleza.


Tal como os filmes realizados anteriormente por este realizador, "A Londoni Férfi" é filmado inteiramente a preto e branco, de uma forma que causa quase a sensação de estarmos a observar um filme já com várias décadas de existência. As longas cenas, quase omnipresentes nos filmes europeus, e particularmente nas obras de Béla Tarr não poderiam faltar neste filme. Contem por isso com cenas que chegam a durar largos minutos, filmadas num só take.

No entanto há uma grande distância entre as grandes obras deste realizador, os aclamados "Satantango" e "Werckmeister Harmonies" e este filme. "A Londoni Férfi" conta com um argumento muito simples e linear, que não desperta minimamente o interesse da audiência, tornando-se mesmo aborrecido em alguns pontos. O filme teria certamente muito a ganhar se fossem exploradas algumas das histórias secundárias, nomeadamente a interacção do protagonista com a sua família. Alguns poderiam argumentar que seria impossível relatar mais eventos neste filme, devido ao facto de este já ter uma duração de quase duas horas e meia, mas certamente que isto não seria um obstáculo para um realizador que já nos trouxe um título com mais de sete horas de filme.

As interacções entre as personagens também poderia ser melhor cuidadas, nomeadamente os diálogos, que nunca foram o ponte forte de Béla Tarr, bem mais voltado para o aspecto estético e artístico dos seus filmes. Este pormenor torna-se ainda mais grave quando se percebe que os diálogos são dobrados, ou seja, foram filmados em húngaro e depois foram sobrepostas vozes em inglês e em francês. Só que o resultado final foi péssimo, com falhas gritantes ao nível da sincronização e inclusivamente - pasme-se - na pronúncia de certas palavras.


Naquilo que diz respeito às performances dos actores não há muito a dizer. Tilda Swinton, a cara mais conhecida no elenco, conta apenas com cerca de cinco minutos de cenas e não sobressai, dando a ideia de que terá participado neste filme devido a uma questão de amizade, respeito ou simpatia para com o realizador. O resto do elenco, protagonista incluído, desempenham apenas aquilo que lhes é exigido, não merecendo qualquer reparo da minha parte, quer pela positiva quer pela negativa.

Por último, deixo aqui um destaque para a componente sonora do filme, aspecto que mereceu certamente um grande cuidado pela equipa de produção, resultando num trabalho fantástico. As músicas simples, tocadas apenas com um piano ou um acordeão, emprestam a "A Londoni Férfi" um tom melancólico que lhe assenta que nem uma luva, e são sem dúvida um dos pontos fortes deste filme.

Não vou mentir. "A Londoni Férfi" é um filme que não agradará a muita gente. Mesmo alguns fãs de Béla Tarr ficarão desapontados com o resultado final deste filme. Por isso, só posso direccionar este filme para os mais fervorosos amantes do cinema europeu, ou para aqueles que gostam de apreciar a beleza que é possível extrair com uma simples câmara, e para quem só isso já vale a experiência.

O melhor: visualmente simples mas com uma beleza rara; a música que acompanha o filme.
O pior: os diálogos dobrados.
Alternativas: Sayat Nova (1968), The Sacrifice (1986), Satantango (1994)

Classificação IMDB: 7.0/10
Classificação RottenTomatoes: 5.8/10
Classificação MovieReviews.com: 2.3/5

A minha classificação:

terça-feira, 28 de setembro de 2010

The Uninvited (2009)

Género: Horror/Suspense
Realizadores: Charles Guard e Thomas Guard
Com: Emily Browning, Arielle Kebbel, Elizabeth Banks e David Strathairn, entre outros.
Página oficial
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Anna é uma jovem em tratamento numa instituição de saúde mental, situação causada pela morte num incêndio da sua mãe, que se encontrava acamada vítima de doença prolongada. Após vários meses de internamento, o se psiquiatra entende que Anna está preparada para regressar à sua vida normal, e assim enfrentar os fantasmas que ainda a continuam a assombrar. Mas os choques começam mal Anna regressa a casa: Rachel, a enfermeira encarregue de cuidar da sua falecida mãe é agora a sua madrasta; a sua irmã está chateada com ela por ela não lhe ter respondido às cartas enviadas durante o período de internamento; e uma estranha entidade parece assombrar a casa. Com o passar dos dias, Anna começa a suspeitar que a sua mãe não morreu num acidente, mas sim que foi assassinada por Rachel. Mas será esta a verdade.

"The Uninvited" é o remake de um filme sul-coreano, "Janghwa, Hongryeon" ("A Tale of Two Sisters", no título em inglês). Este filme sul-coreano teve uma boa recepção pela crítica, e a máquina de Hollywood não resiste a aproveitar estes títulos estrangeiros para oferecer uma nova versão mais ocidentalizada para agradar às massas. São exemplos deste processo, dentro do género em que se insere este filme, títulos como as sagas "The Grudge", "The Ring", ou "REC", entre muitos outros.

A premissa deste filme é bastante simples, mas o argumento consegue ser suficientemente denso para que a audiência permaneça interessada. Apesar de eu o ter rotulado como um filme de horror, este é um filme marcadamente de suspense, e é assim que deve ser encarado. É a história de uma jovem em busca de respostas, num ambiente cada vez mais opressivo, algo já revisto inúmeras vezes em filmes deste tipo. Mas "The Uninvited" oferece-nos alguns elementos que sobressaem, e que vale a pena mencionar.


As interacções entre as personagens estão bastante bem conseguidas, construindo uma teia muito interessante e que só a espaços desaponta. Só que apesar de serem poucas as cenas menos conseguidas, estas ocorrem em partes fulcrais do argumento, o que lhe é fatal. Em alguns casos estes problemas resumem-se a atitudes pouco naturais das personagens ou a actuações demasiado rígidas por parte dos actores, mas noutras situações as consequências são mais gravosas, na figura de situações inverosímeis ou, pura e simplesmente, falhas do argumento. Se todas estas falhas não ocorressem, o filme poderia sem dúvida aspirar a um outro patamar de qualidade.

A banda sonora apresenta uma contribuição muito positiva neste "The Uninvited". A música é praticamente uma constante neste filme, com faixas muito bem escolhidas e que, apesar de serem suficientemente subtis para não incomodar, ditam claramente o ritmo do filme e contribuem decisivamente para o efeito dramático deste título. Ainda ao nível técnico há outros factores a destacar, nomeadamente o trabalho de câmara, que se mostra a um muito bom nível. Já a edição não está no mesmo patamar, apresentando alguns problemas, particularmente nas transições entre cenas que, em alguns casos, são demasiado abruptas sem necessidade aparente.

Contem com alguns bons sustos, e com algumas situações capazes de o colar à cadeira. Quanto ao desfecho do filme, este acaba por surpreender, mas está muito dependente do twist final da história. De facto, "The Uninvited" utiliza um esqueleto de argumento que começa a tornar-se comum, o que pode eliminar o impacto do referido twist, tornando o final previsível e, em última instância, desiludindo a audiência.

Ao nível dos actores, a jovem Emily Browning ("Lemony Snicket's A Series of Unfortunate Events"), com o seu ar frágil e inocente mostra-se uma escolha acertada para o papel de protagonista. A sua personagem é bem complementada pela prestação de Arielle Kebbel ("The Grudge 2"), mas esta última está ainda assim alguns furos abaixo. Destaco ainda Elizabeth Banks ("Zack and Miri Make a Porno"), cuja performance será certamente sub-avaliada pela maioria da audiência; na minha opinião Elizabeth Banks tem a melhor prestação individual do filme, apesar de ser uma personagem secundária, facto que se comprova de uma forma ainda mais fácil depois de uma segunda visualização de "The Uninvited".


De uma forma geral, "The Uninvited" é um filme mediano com alguns pontos interessantes. As prestações dos actores são bastante competentes, apesar de estarem a milhas de deslumbrar, e a dupla de realizadores consegue tirar o melhor destes desempenhos principalmente com um trabalho de câmara de muito bom nível. Pontos extra também para a banda sonora. Porém, o argumento com pouca originalidade e que recorre a algumas técnicas já exploradas deitam por terra quaisquer expectativas que a equipa de produção pudesse ter relativamente ao patamar de sucesso que o filme pudesse alcançar. Mas continua a ser uma boa peça de entretenimento, se não tiver outras alternativas.

O melhor: consegue criar um ambiente de tensão permanente.
O pior: muito dependente da eficácia do twist final.
Alternativas: The Other (1972), Janghwa, Hongryeon (2003), Hide and Seek (2005)

Classificação IMDB: 6.3/10
Classificação RottenTomatoes: 4.6/10
Classificação MovieReviews.com: 3.4/5

A minha classificação:

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dog Days of Summer (2007)

Género: Drama
Realizador: Mark Freiburger
Com: Devon Gearhart, Colin Key, Colin Ford e Will Patton, entre outros.
Página oficial
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Phil Walden trabalha para a Companhia da Electricidade dos Estados Unidos. Em vésperas da entrada em funcionamento de uma nova barragem, Phil desloca-se até à pequena povoação onde passou a sua infância, numa localização que ficará submersa quando o nível das águas começar a subir. Esta pequena cidade foi completamente abandonada há já alguns anos, e Phil passeia-se por entre as ruínas, recordando-se das suas vivências de criança, particularmente de um certo Verão. Nesse Verão, Phil viveu, juntamente com o seu amigo Jack, grandes aventuras. Mas esse Verão ficou marcado pela chegada de um estranho homem à cidade, um construtor de maquetas chamado Eli, cujo impacto se reflectiu não só na vida dos dois rapazes, mas de toda a comunidade.

Mark Freiburger estreia-se no mundo da realização com este "Dog Days of Summer", um filme que nos traz a história de uma pequena e simpática cidade, que porém esconde segredos debaixo da sua fachada. É um filme com um orçamento limitado, factor que se torna visível em vários momentos, mas que ainda assim consegue juntar algumas caras mais ou menos conhecidas no seu elenco.


O realizador consegue captar na objectiva o espírito que se vivia nas pequenas cidades do sul dos Estados Unidos durante as décadas de 60 e 70, pequenas povoações em que se todos se conheciam e em que os habitantes demonstravam o brio e o orgulho de a elas pertencerem. O argumento parte desta premissa para nos contar uma história que, salvo algumas questões que são deixadas no ar, se apresenta bastante credível.

No que aos actores diz respeito, Will Patton ("The Postman", "Remember the Titans") acaba por roubar algum do protagonismo às personagens principais, em parte por se apresentar como o actor mais conhecido para a maioria da audiência, mas principalmente pela aura de mistério que envolve o seu personagem. Colin Key, um completo desconhecido que, apesar de desempenhar o papel do protagonista - enquanto adulto - acaba por ter um desempenho que quase se pode reduzir à função de narrador, dado que as cenas em que participa são esporádicas e não são de grande intensidade dramática nem exigem muito do actor, salvo uma pequena sequência na parte final do filme. Por outro lado, os pequenos Devon Gearhart ("Funny Games") e Colin Ford ("Push") tornam-se facilmente no destaque deste filme, no que à performance dos actores diz respeito. As suas actuações mostram-se bastante naturais, e a inocência que aparentam capta a simpatia da audiência logo a partir do primeiro momento.

A cinematografia deste "Dog Days of Summer" está a um bom plano, apesar das limitações no orçamento já referidas. Este título foi filmado em película de 35mm, o que se mostra acertado tendo em conta a temática e o tipo de filme. Uma nota também para o bom enquadramento das cenas e para a edição e pós-produção, dois factores também de qualidade neste filme. Por último, um pequeno destaque para a banda sonora de "Dog Days of Summer", que se apresenta sóbria e subtil mas muito bem enquadrada.


Apesar destes bons elementos, "Dog Days of Summer" acaba por não resultar assim tão bem quando visto como um todo. Apesar de algumas sequências interessantes, o filme é um pouco aborrecido quando visto como um todo e. Algumas personagens, como o mayor da cidade ou o pároco local, parecem demasiado estereotipadas, e até mesmo a personagem de Will Patton acaba por causar alguns momentos de estranheza e afigurar-se um pouco desenquadrada. O próprio filme, visto por outra perspectiva, quase poderia ser um episódio da série "Twilight Zone", sem qualquer alteração. Em adição a tudo isto, o próprio argumento também não está isento de culpas pois, apesar de uma primeira metade de muito boa qualidade, acaba por se render à via mais fácil para o seu desfecho, perdendo assim a oportunidade de alcançar um patamar qualitativo superior.

"Dog Days of Summer" é, pelos aspectos descritos, um filme que não cumpre o meu patamar mínimo de exigência, apesar de alguns elementos de boa qualidade. Deixa no ar a ideia de que Mark Freiburger é um realizador cujo futuro poderá valer a pena acompanhar. Se não tiver nenhuma outra alternativa, "Dog Days of Summer" até poderá servir para o entreter, mas a minha recomendação é que procure outro filme.

O melhor: a forma como a pequena povoação é retratada.
O pior: algumas dúvidas que o argumento deixa por esclarecer; alguns elementos parecem desajustados e estereotipados.
Alternativas: Eve's Bayou (1997), Dandelion (2004), Empire Fall (2005)

Classificação IMDB: 5.6/10
Classificação RottenTomatoes: n/a
Classificação MovieReviews.com: 2.6/5

A minha classificação:

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

The Wrestler (2008)

Género: Drama/Desporto
Realizador: Darren Aronofsky
Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood e Judah Friedlander, entre outros.
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Randy "The Ram" Robinson é um lutador de wrestling que ganhou prestígio durante a década de 80, enchendo recintos como o Madison Square Garden. Randy era o melhor, e toda a gente o adorava. Agora, 20 anos depois, Randy continua a participar em combates e eventos locais, não só porque é isso que lhe paga as contas, mas porque é aquilo que mais prazer lhe dá. Só que o corpo começa a mostrar sinais de fadiga, reflexo de anos de abuso e de excessos e, após um ataque cardíaco, Randy começa a pensar em colocar um ponto final na sua carreira, encorajado pelos médicos. Porém, enquanto ele ainda se começa a habituar a uma vida fora do ringue, é-lhe apresentada uma proposta: uma re-edição do maior combate da sua carreira, um evento que o poderá catapultar novamente para a ribalta.

"The Wrestler" é o filme que foi anunciado como o título que nos trouxe um Mickey Rourke na sua melhor forma, após anos em que andou perdido em filmes que deixam bastante a desejar, qualitativamente falando. E esse facto confirma-se. Mickey Rourke tem neste filme o seu melhor desempenho de sempre, sem qualquer dúvida, facto que não passou despercebido à Academia, que o nomeou para o Óscar de Melhor Actor por este papel.


Apesar de Rourke captar para si praticamente toda a atenção, não só pelo destaque óbvio que a sua personagem recebe mas também pelo seu grande desempenho, há ainda espaço para outros actores brilharem. Marisa Tomei ("In the Bedroom", "My Cousin Vinny") tem aqui um papel muito exigente, na pele de uma stripper por quem Randy nutre afecto, e onde mostra que é uma actriz muito talentosa e versátil. Apesar de já não ser propriamente uma jovem - nasceu em 1964 - tenho a sensação que esta actriz será muito provavelmente um nome a ter em conta nos próximos anos. Também a jovem Evan Rachel Wood ("Thirteen", "Across the Universe") que começa, lentamente, a construir uma carreira bastante promissora, consegue com esta sua curta participação demonstrar ainda assim que possui talento para singrar no mundo do cinema e que não é só mais uma cara bonita.

Muitos poderão pensar que, sendo este um filme sobre um lutador de wrestling, este estará certamente repleto de momentos de acção. Pois bem, desengane-se se pensa assim. De facto, os combates são um elemento que está presente neste "The Wrestler", e em alguns casos com cenas que duram largos minutos, mas não é este o enfoque do filme. "The Wrestler" é a luta de um homem que não consegue largar uma actividade que exerceu durante toda a vida, de um homem que não consegue adaptar-se a uma vida normal, de um homem que passou tanto tempo a fugir das pessoas que agora não se consegue aproximar delas. E apesar desta visão tão complexa, "The Wrestler" é um filme surpreendentemente simples.

"The Wrestler" é um filme que resulta porque consegue captar a nossa empatia. Mesmo aqueles que não apreciam o wrestling irão certamente encontrar neste filme uma boa peça de entretenimento, capaz de nos manter colados ao ecrã durante toda a sua duração. É um filme duro e cru - algumas cenas poderão inclusivamente impressionar os mais sensíveis - e que por vezes chega a ser quase depressivo. Mas também tem os seus momentos mais cómicos, e algumas cenas mais emotivas em que algumas pessoas são capazes de soltar algumas lágrimas. Está de parabéns o realizador, que já nos tinha oferecido o magnífico "Requiem for a Dream", por conseguir juntar todas estas peças e construir um filme de inegável qualidade que, à partida, poderia não aparentar.

Por último, uma nota para a banda sonora que se adapta perfeitamente ao espírito do filme, com faixas como "Sweet Child O' Mine" dos Guns N' Roses ou "Animal Magnetism" dos Scorpions.


Por tudo isto, "The Wrestler" é um filme que ninguém deve perder. Um argumento simples mas marcante, uma realização cuidada e uma grande atenção a todos os elementos cinematográficos culminam neste filme que não tenho qualquer dúvida em recomendar.

O melhor: o regresso de Mickey Rourke.
O pior: no meio de vários elementos de qualidade, o argumento acaba por surgir como o elo mais fraco.
Alternativas: Fat City (1972), Raging Bull (1980), Rocky Balboa (2006)

Classificação IMDB: 8.2/10
Classificação RottenTomatoes: 8.3/10
Classificação MovieReviews.com: 3.6/5

A minha classificação:

Frost/Nixon (2008)

Género: Drama
Realizador: Ron Howard
Com: Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell e Kevin Bacon, entre outros.
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Richard Nixon, o 37º Presidente dos Estados Unidos da América, foi uma figura que marcou a sua época, para o bem ou para o mal. Com a Guerra do Vietname a decorrer quando chegou à Casa Branca, Nixon acabou por se envolver numa série de polémicas que culminaram com o escândalo de Watergate e com a sua renúncia ao cargo, evitando assim que o processo de impeachment fosse avante. Nixon é ainda hoje o único Presidente dos Estados Unidos que resignou. Sem poder e sem a simpatia do povo, Nixon inicia então um processo para tentar reconquistar a confiança do eleitorado, e prosseguir assim a sua carreira política. Com este fim em vista, o ex-presidente enceta contactos com realizadores e editores para publicar livros e filmes que relatem a sua versão dos acontecimentos. David Frost, um apresentador britânico de talk-shows com fama de playboy, vê aqui uma oportunidade para conseguir fama e sucesso, e apresenta aos colaboradores de Nixon uma proposta para a realização de uma série de entrevistas, sobre vários temas. Sendo Frost um homem sem nenhuma ligação à política, com um percurso profissional mais voltado para a comédia e o entretenimento, a equipa de Richard Nixon achou que esta era uma proposta irrecusável. Mas as coisas não iriam ser assim tão fáceis.


Baseado em eventos reais, este "Frost/Nixon" é a adaptação para cinema da peça de teatro homónima pela qual, curiosamente, Frank Langella recebeu o Tony Award para melhor actor, em 2007. O filme foca-se na série de entrevistas entre David Frost e Richard Nixon, retratando os eventos que levarão à sua realização, os encontros prévios entre os dois, a luta pela angariação de fundos para o financiamento das entrevistas, e a etapa de recolha de informação e de preparação para as sessões propriamente ditas. Algumas filmagens históricas foram recriadas com os actores, nomeadamente o anúncio televisivo da sua resignação e o abandono da Casa Branca, para além das entrevistas, obviamente.

Frank Langella assume o papel de Richard Nixon, muito em virtude do seu sucesso na peça de teatro, e nota-se que o actor está claramente à vontade na pele do controverso ex-presidente. Não é à tua que viria a ser nomeado para o Óscar de Melhor Actor por esta prestação. O único reparo que tenho a fazer é a nível da fisionomia, pois Langella não é propriamente parecido com Richard Nixon. O papel de David Frost é desempenhado por Michael Sheen ("Underworld", "The Queen"), que cumpre também o seu papel muito positivamente, apesar de algumas expressões faciais a que recorre frequentemente não me agradarem particularmente. Os actores responsáveis por encarnar as personagens secundárias que acompanham os protagonistas estão também a um bom nível, e formam dois grupos muito interessantes: se por um lado temos Kevin Bacon, Patty McCormack e Toby Jones como figuras que ladeiam a personagem de Frank Langella, por outro temos Sam Rockwell, Oliver Platt e Matthew Macfadyen a apoiar Michael Sheen. Portanto, como vêem, não falta talento neste elenco e, felizmente, esse talento reflecte-se no resultado final.


Não se tratando de um argumento original - uma vez que é uma adaptação de um guião já existente - e tendo em conta que é um filme que retrata eventos que aconteceram na realidade e que são bem conhecidos, poderia ser difícil para o realizador deste "Frost/Nixon" criar um produto apelativo e capaz de manter a audiência atenta. Mas Ron Howard, com talento já reconhecido em "Cocoon", "A Beautiful Mind" ou "Cinderella Man", atingiu claramente este objectivo e tornou "Frost/Nixon" num filme que qualquer realizador gostaria de ter no currículo. No entanto, continuo a não concordar com a sua nomeação para o Óscar de Melhor Filme de 2009, não pela sua qualidade, que é indiscutível, mas por isso colocar fora filmes como "Doubt" ou "Gran Torino", só para citar alguns, que na minha opinião são superiores em termos qualitativos.

Assim sendo, resta-me recomendar este filme a todos aqueles que não o viram, principalmente para aqueles que apreciam de uma forma particular filmes sobre eventos ou figuras que marcaram toda uma época.

O melhor: Frank Langella.
O pior: sendo a recriação de um evento real, não existe qualquer efeito surpresa pois o seu desfecho é já conhecido.
Alternativas: Nixon (1995), Good Night, and Good Luck. (2005), W. (2006)

Classificação IMDB: 7.9/10
Classificação RottenTomatoes: 7.9/10
Classificação MovieReviews.com: 3.8/5

A minha classificação:

terça-feira, 7 de setembro de 2010

De Ofrivilliga (2008)

Género: Drama
Realizador: Ruben Östlund
Com: Villmar Björkman, Linnea Cart-Lamy, Maria Lundqvist e Leif Edlund, entre outros.
Página oficial
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Poster encontrado aqui.

Cinco histórias: uma família que festeja o aniversário de um dos seus membros, um grupo de pessoas que viajam de autocarro entre duas cidades, duas adolescentes que gostam de se divertir e de cometer excessos, uma jovem professora do ensino básico, e um grupo de amigos de longa data que se reunem numa casa de campo para passar uns dias de férias. Existirá algo em comum entre todas estas histórias?

Sim e não. De facto, todas as histórias se desenrolam em ambientes e locais distintos, e os personagens não interagem uns com os outros. O elemento comum é que, em todas elas, algumas personagens acabam por, involuntariamente, gerar uma situação que acaba por afectar aqueles que os rodeiam. "De Ofrivilliga", este filme de origem sueca, recebeu precisamente por esta razão o título alternativo de "Involuntary", para potenciar a sua internacionalização.


"De Ofrivilliga" é um filme marcadamente europeu, com a sua fotografia típica e sem os recursos que as produções hollywoodescas apresentam. Por esta razão, não esperem ver nada de visualmente deslumbrante. Mas isso não significa que o filme não seja visualmente apelativo, antes pelo contrário. O cuidado com os ângulos de câmara é uma constante, algo que, aliado aos já sobejamente conhecidos longos planos tão típicos do cinema europeu, proporciona ao filme aquela espécie de aura que tantos apreciam. É uma técnica que os realizadores utilizam para focar a atenção da audiência nas situações e nas interações, relegando as personagens para um plano quase secundário. Esta histórias são-nos apresentadas aos poucos, sendo intercalados os diferentes argumentos.

Os actores, que desempenham personagens com os seus próprios nomes, são praticamente desconhecidos. Mas conseguem ainda assim performances surpreendentemente naturais e credíveis. Não há muito a destacar neste aspecto pois, como já referi, o filme dá uma importância menor aos actores e prefere destacar o argumento. Mas tenho no entanto que voltar a reforçar que todo o elenco apresenta um desempenho muito profissional e que contribui muito positivamente na transmissão das ideias do realizador e do argumentista.

O que nos leva à discussão do argumento. "De Ofrivilliga" apresenta cinco histórias diferentes, cinco situações perfeitamente normais, pelas quais muitos de nós já passaram - por todas ou por parte delas - e que por isso despertam um certo sentimento de familiaridade. Mais do que focar-se especificamente nessas situações, o filme explora as acções e reacções das personagens após determinados acontecimentos, num estudo muito interessante e que nos faz efectivamente reflectir sobre elas. Tudo isto só é possível pela conjugação dos aspectos acima referidos: personagens com quem nos identificamos, situações que muitos já vivenciaram e aspectos mais técnicos que lhe dão um carácter quase intimista. O filme tem também um lado um pouco cómico, bem doseado e que não afecta a sua carga dramática.


Por tudo isto, "De Ofrivilliga" foi um filme que me surpreendeu positivamente. Tem alguns aspectos negativos, nomeadamente o seu final demasiado abrupto (na minha opinião) ou a curta duração, que se mostra insuficiente para explorar melhor os vários cenários que nos apresenta, mas os aspectos positivos compensam estes aspectos menos bem conseguidos. É um filme para todos aqueles que apreciam uma fita que os faça reflectir, e que se debruça sobre a forma como o Homem, enquanto animal social, reage a situações desconfortáveis que causou involuntariamente. Se não acha muita piada ao cinema europeu, então este filme não é para si.

O melhor: um bom ensaio sobre algumas facetas do ser humano.
O pior: final abrupto; a variedade de histórias esconde a linearidade do argumento.
Alternativas: Short Cuts (1993), Things You Can Tell Just by Looking at Her (1999), Babel (2006)

Classificação IMDB: 7.1/10
Classificação RottenTomatoes: n/a
Classificação MovieReviews.com: 3.0/5

A minha classificação:

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tyson (2008)

Género: Documentário
Realizador: James Toback
Com: Mike Tyson, entre outros.
Página oficial
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Poster encontrado aqui.

"Tyson" é um documentário sobre a vida do famoso Mike Tyson, um lutador de boxe com tanto de virtuoso como de problemático. O documentário acompanha os momentos marcantes da carreira de Mike Tyson, desde a sua infância até à actualidade.

Tyson, com 42 anos de idade à data da realização deste documentário, relata na primeira pessoa o que lhe passava pela mente em todos as situações que nos são apresentadas. Desde a sua infância, na problemática Brooklyn para onde os seus pais se foram obrigados a mudar devido a dificuldades financeiras, e onde foi vítima de bullying, Tyson recorda todos os momentos que o levaram à situação onde hoje se encontra. Tyson fala sem rodeios da fase da sua vida em que, com pouco mais de 13 anos, se junta a outros jovens e começa a participar em roubos que o levariam inúmeras vezes até à prisão.


É igualmente retratada neste documentário a forma como Mike Tyson entra no mundo do boxe, e as etapas que o levariam ao título de campeão do mundo de pesos-pesados com apenas 20 anos, estabelecendo um recorde que ainda hoje perdura.

Há ainda tempo para Tyson recordar a fase descendente da sua carreira, onde não se imiscui de comentar a sua relação com as drogas e o sexo, e polémicas como a sua condenação por violação de uma jovem ou a célebre dentada na orelha de Evander Holyfield.

O documentário intercala os comentários de Mike Tyson com imagens e vídeos de arquivo, criando um ambiente intimista onde o célebre pugilista se mostra como realmente é, falando de uma forma franca sobre tudo aquilo por que passou.


Este documentário é dirigido para os fãs de Mike Tyson, ou para os amantes do boxe em geral. Aqueles que apreciam documentários sobre grandes figuras do desporto também encontrarão aqui alguns motivos de interesse. Em suma, se a ideia de um documentário sobre Mike Tyson, quer como homem, quer como pugilista, lhe levanta pelo menos a curiosidade, então provavelmente não se arrependerá com a visualização deste documentário.

O melhor: Tyson, com uma franqueza raramente vista.
O pior: seria mais interessante ver outras pessoas, para além de Mike Tyson, a dar o seu testemunho e a versão dos acontecimentos.
Alternativas: When We Were Kings (1996), The Smashing Machine (2002), Unforgivable Blackness: The Rise and Fall of Jack Johnson (2004)

Classificação IMDB: 7.6/10
Classificação RottenTomatoes: 7.1/10
Classificação MovieReviews.com: 3.6/5

A minha classificação:

Laid to Rest (2009)

Género: Horror
Realizador: Robert Hall
Com: Bobbi Sue Luther, Kevin Gage, Sean Whalen e Lena Headey, entre outros.
Página oficial
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Poster encontrado aqui.

Uma jovem acorda dentro de um caixão, numa casa mortuária, com um profundo golpe na cabeça. Esta lesão provocou-lhe uma perda de memória, fazendo com que ela não se recorde da sua identidade, nem do que terá ocorrido para a colocar nesta situação. Mas rapidamente ela percebe que não será fácil escapar deste cenário, pois não está sozinha no pequeno edifício: um homem, que se esconde por trás de uma máscara, está ali para acabar com o que começou.

"Laid to Rest" é um típico filme de horror, com uma estrutura clássica. Temos a personagem principal, colocada numa situação de desvantagem (ferida e com amnésia), um brutal serial killer como vilão, e uma data de personagens secundárias que se colocam entre a presa e o predador, e que tentam também lutar para sobreviver.

Apesar desta estrutura ter já sido vista e revista múltiplas vezes, alguns filmes são ainda assim capazes de surpreender a audiência ao apresentar argumentos sólidos e coerentes, com alguns elementos originais, e que se afastam do marasmo que parece assombrar este género de filmes. No entanto, e infelizmente, "Laid to Rest" não faz parte deste grupo de filmes que se conseguem destacar.


De uma coisa não tenham dúvidas: "Laid to Rest" não é um filme para qualquer um. O realizador aposta no gore para salvar o argumento o mais que pode, e esta aposta acaba por resultar em parte. Este filme encaixa na subcategoria dos slasher movies, e honra este epíteto. Os efeitos visuais estão excelentes, e são dos melhores que já vi, e não recorrem a imagens geradas por computador (CGI) como está praticamente todos os filmes fazem agora. Apesar de exageradas, em algumas situações, as cenas mais gráficas apresentam uma elevada dose de realismo, o que é sempre de salientar. Se forem espectadores facilmente impressionáveis, irão passar muito tempo com o olhar longe do ecrã.

Mas se excluirmos este aspecto, "Laid to Rest" não possui muitos mais motivos de interesse. O filme tem um aspecto que faz lembrar a época de ouro dos filmes de horror, os anos 70, mas existem elementos que nos indicam claramente que se passa no presente, sendo um computador com o Windows XP o mais óbvio. Apesar disso, este ambiente retro é aquele que permanece na memória da audiência e, na minha opinião, é um aspecto positivo. O argumento de "Laid to Rest" é muito fraco, com sequências confusas, decisões sem nexo dos personagens (este parece ser um factor obrigatório nos filmes de horror), e com um final que, para além de ser previsível, desaponta. Para piorar, o próprio serial killer nunca é verdadeiramente ameaçador. Agressivo e perigoso sim, mas nunca assustador.

Bobbi Sue Luther é a protagonista deste filme, uma modelo tornada actriz com um currículo não muito extenso, consistindo basicamente em breves aparições em filmes de qualidade duvidosa. Ah, e é casada com o realizador deste "Laid to Rest". O que ajuda a explicar a sua escolha para este papel, uma vez que a sua performance é bastante sofrível, com movimentos demasiado rígidos e uma postura muito pouco natural. Felizmente, os actores secundários conseguem desempenhos bem melhores, logo a começar por Kevin Gage, um actor para mim desconhecido mas já com várias participações em vários filmes, com papeis menores, sendo o mais conhecido no célebre "Heat". Gage contribui positivamente para o resultado final de "Laid to Rest", com aquela que é, para mim, a melhor prestação individual do filme. Sean Whalen, na pele de uma personagem interessante mas não completamente aproveitada, apresenta-nos uma performance bastante satisfatória. Os restantes actores têm participações mais reduzidas, inclusivamente o assassino, desempenhado pelo desconhecido Nick Principe, que não diz uma única palavra durante todo o filme. Ainda assim, destaco a presença de Lena Headey ("300", "Terminator: The Sarah Connor Chronicles") não tanto pela sua participação - que é bastante reduzida - mas por figurar como a cara mais conhecida do elenco.


Juntando todas as peças, "Laid to Rest" é um filme para os amantes dos slasher movies, que não sairão desapontados com a quantidade e qualidade das cenas mais gráficas. Se procuram algo mais do que isto (ou seja, se fazem parte da maioria da audiência), então não percam o vosso tempo com este filme.

O melhor: os efeitos visuais.
O pior: argumento muito fraco; Bobbi Sue Luther poderia ser facilmente substituída, com melhores resultados.
Alternativas: Halloween (1978), Friday the 13th (1980), Scream (1996)

Classificação IMDB: 5.1/10
Classificação RottenTomatoes: n/a
Classificação MovieReviews.com: 2.9/5

A minha classificação:

domingo, 29 de agosto de 2010

Ben X (2007)

Género: Drama
Realizador: Nic Balthazar
Com: Greg Timmermans, Marijke Pinoy, Laura Verlinden e Cesar de Sutter, entre outros.
Página oficial
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Ben é um adolescente a quem foi diagnosticado o Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. A vida de Ben não é fácil. Para além da sua condição, Ben é diariamente alvo de troça e abusado pelos seus colegas, na escola que frequenta. O único escape do jovem é um jogo de computador online, Archlord, onde é respeitado pelo estatuto que conseguiu alcançar dentro deste, fruto da sua dedicação. É ainda neste universo paralelo que Ben conhece a jovem que se esconde por trás do avatar de nome Starlite, e que é para Ben uma verdadeira amiga. Mas tudo isto não passa de um analgésico para a dor cada vez mais insuportável de Ben. E Ben decide então traçar um plano para acabar com o seu sofrimento.

"Ben X" é um filme holandês. O seu título têm origem na forma como é pronunciado na sua língua nativa, "Benniks", que significa "Eu não sou nada". Não se pode dizer que o argumento seja propriamente original, pois é a história de um rapaz que é vítima de bullying na escola, e que é incapaz de fazer frente aos seus agressores.


Mas este filme acrescenta algo mais a esta premissa múltipla vezes revisitada no cinema. O facto de o jovem sofrer de uma condição - Asperger - que lhe impõe limitações adicionais aumenta ainda mais a nossa empatia pela personagem. Por último, o filme dá-nos também um ligeiro olhar sobre o universo dos jogos online, frequentemente encarados pela sociedade quase como a origem de todos os males, mas que é para o jovem autista o único lugar onde ele se sente completamente realizado.

O realizador está também de parabéns pela forma como conjugou todos os aspectos do enredo. Nic Balthazar consegue, de uma forma subtil, embalar-nos ao longo de todo o filme, mantendo-nos atentos em frente ao ecrã. Balthazar consegue (ou pelo menos tenta) mostrar-nos de perto a mente de uma pessoa com Síndrome de Asperger, com uma grande atenção aos pormenores que se reflecte nos diálogos - e monólogos - e nas acções das personagens. Mas dá-nos também uma visão crua do bullying, com algumas cenas que, sem nunca serem propriamente explícitas ou violentas, nos deixam a reflectir sobre o assunto. Por último, o filme parece caminhar previsivelmente para um determinado desfecho, mas o realizador consegue, de uma forma muito competente, introduzir um twist que apanhará certamente todos de surpresa, e que constitui mais um dos motivos de interesse deste filme.

Obviamente que isto só seria possível com um bom desempenho dos actores, e estes não desapontam, apesar de serem completos desconhecidos e de, muitos deles, participarem pela primeira vez numa longa metragem. Greg Timmermans tem uma performance memorável, salvo algumas (poucas) cenas que parecem um pouco forçadas, e a espaços quase questionamos se estamos a ver um filme ou se são cenas reais. O resto do elenco está também muito bem, mas como "Ben X" gira em torno da personagem principal não vejo razões para destacar um ou outro actor secundário.


Em suma, "Ben X" é uma obra realizada com muito cuidado, resultando num filme surpreendentemente belo tendo em conta a sua carga dramática e o tema que aborda. Greg Timmermans é a figura de proa de um elenco muito competente que, em conjunto com o realizador e restantes equipas técnicas, nos proporcionam um bom momento de cinema. Apesar de não receber a minha classificação máxima, é ainda assim um filme que não tenho qualquer dúvida em recomendar.

O melhor: um estudo sobre o Síndrome de Asperger, o bullying e a obsessão pelos videojogos.
O pior: tratando-se de um filme numa língua que nem toda a gente domina, ficou arredado dos circuitos habituais do cinema e muita gente não o pôde apreciar.
Alternativas: Rain Man (1988), What's Eating Gilbert Grape (1993), Forrest Gump (1994)

Classificação IMDB: 7.6/10
Classificação RottenTomatoes: 6.3/10
Classificação MovieReviews.com: 3.8/5

A minha classificação:

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cthulhu (2007)

Poster do filme Cthulhu
Género: Drama/Horror
Realizador: Dan Gildark
Com: Jason Cottle, Dennis Kleinsmith, Cara Buono e Tori Spelling, entre outros.
Página oficial
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Poster encontrado aqui.

Russ é um bem sucedido professor de História na Universidade de Seattle, que se vê forçado a regressar a Rivermouth, a cidade onde nasceu, para acompanhar o funeral da sua mãe. Em Rivermouth, Russ reencontra a sua família, de quem se afastou após assumir a sua homossexualidade, principalmente devido à postura do pai, líder de um obscuro culto religioso, que nunca aceitou as suas acções. Mas algo de sombrio parece envolver a cidade, que vem sendo assolada pelo desaparecimento de várias pessoas nos últimos tempos, e apesar de desejar abandonar rapidamente esta localização e as recordações que ela carrega, Russ sente um ímpeto para descobrir o que se passa em Rivermouth.

"Cthulhu" é um filme que se baseia num dos romances de H.P. Lovecraft, "The Shadow Over Innsmouth". Porém, esta adaptação não faz jus àquele que é por muitos considerado o maior escritor de horror de todos os tempos, uma vez que só a espaços se conseguem identificar alguns dos traços que caracterizam as suas obras.

O orçamento deste filme é bastante reduzido, o que se reflecte em vários aspectos. O elenco é um deles, sendo constituído maioritariamente por actores desconhecidos do grande público, muitos deles amadores, com uma ou outra cara conhecida de talento duvidoso - sim, Tori Spelling, estou a olhar para ti. As performances são sofríveis, à falta de melhor palavra, fruto da inexperiência óbvia dos actores, o que nos faz torcer o nariz na maioria das cenas deste "Cthulhu". Ainda pior é a falta de empatia despertada pelo protagonista, o que o torna cada vez mais aborrecido à medida que o filme avança.

Jason Cottle é Russ em Cthulhu

O baixo orçamento tem também um impacto significativo na fotografia do filme, que em algumas situações parece ter sido filmado por uma qualquer câmara de vídeo de uso familiar. Este efeito nem sempre é negativo, e alguns filmes como "The Blair Witch Project" ou "Cloverfield" tiram inclusivamente partido das suas particularidades, sendo que neste "Cthulhu" isto nem é despropositado de todo. Porém, nota-se claramente que foi uma solução de recurso e que o filme ganharia com uma maior atenção a este pormenor. Adicione-se a isto uma edição defeituosa e apressada, que faz com que algumas cenas pareçam desconexas entre si, e facilmente se conclui que será difícil apreciar este filme.

Felizmente nem tudo é mau neste "Cthulhu". De facto, o ambiente sombrio da cidade onde se desenrola a história traz algum interesse ao filme e, de uma forma geral, os cenários estão bastante bons, com uma grande atenção aos pormenores em algumas cenas. Nota-se também um esforço do realizador em criar uma atmosfera de tensão em redor da película, e há um par de situações que são capazes de nos fazer saltar das cadeiras. Mas eu não usaria a palavra "assustador" para categorizar este filme. "Cthulhu" é um filme quase sinistro, que nos deixa a pensar naquilo que se poderá estar a passar nas sombras, naqueles lugares remotos que ninguém conhece, ou simplesmente naquelas populações isoladas de tudo o resto.

Tori Spelling participa em Cthulhu

Fica-me a impressão de que o realizador e os produtores fizeram tudo aquilo que estava ao seu alcance para extrair o máximo de um orçamento que já era, à partida, demasiado curto. Por causa deste, "Cthulhu" não tem no seu elenco grandes actores, e os aspectos técnicos deixam muito a desejar. O filme vê-se obrigado a relatar e descrever eventos, sem nunca os poder mostrar por não possuir meios para tal. Por tudo isto, "Cthulhu" ganhou a minha simpatia. "Cthulhu" não é um bom filme, é até muito fraco em vários aspectos, e por isso não o posso recomendar sem sentir um peso na consciência, mas este filme não me deixou completamente indiferente depois da sua visualização. E bem lá no fundo é esse o objectivo do cinema, certo?

O melhor: a atmosfera sombria do filme.
O pior: prestações do actores muito fracas.
Alternativas: Dagon (2001), The Call of Cthulhu (2005), The Mist (2007)

Classificação IMDB: 4.6/10
Classificação RottenTomatoes: 5.4/10
Classificação MovieReviews.com: 2.3/5

A minha classificação:
Duas estrelas em cinco