quinta-feira, 8 de outubro de 2009

From Within (2008)

Género: Horror/Suspense/Thriller
Realizador: Phedon Papamichael
Com: Elizabeth Rice, Thomas Dekker, Kelly Blatz e Adam Goldberg, entre outros.
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Numa pequena cidade no estado de Maryland, um incidente vem perturbar a calma vivida pela comunidade. O suicídio de um jovem adolescente parece ter despoletado uma série de violentos suicídios em cadeia. Este adolescente é filho de uma mulher falecida naquela mesma cidade há alguns anos atrás, de uma forma violenta e misteriosa, que era acusada de praticar bruxaria e de idolatrar os demónios. Quando rumores de uma suposta maldição começam a circular pela cidade, Aidan, irmão do adolescente que se suicidou, começa a ser perseguido e a ser vítima de agressões devido ao passado da sua família. Os habitantes locais são fervorosos crentes cristãos e, inspirados pelo fanático pastor da igreja local, formam um grupo de vigilantes capazes de fazer tudo para trazer de novo a paz a esta comunidade temente a Deus.

"From Within" é um filme cujo argumento segue as linhas básicas dos filmes de horror psicológico clássicos. Assim sendo, não contem com violência gráfica excessiva, como podemos assistir em filmes como "Saw" ou "Hostel", limitando-se ao essencial para transmitir a sua mensagem.

O argumento deste filme é relativamente interessante, e com um grande potencial para se tornar apelativo e assustador. No entanto, à medida que o tempo vai passando o filme vai-se tornando repetitivo e até previsível, retirando uma grande parte da tensão que poderia alcançar. Consegue no entanto surpreender com o seu final, e tem o mérito de abordar um tema que não é frequentemente tratado em filmes - o fanatismo cristão de algumas comunidades mais fechadas.

O desempenho dos actores torna "From Within" bastante agradável de assistir, porém não contem com performances dignas de um qualquer prémio. Podia talvez destacar o trabalho realizado por Thomas Dekker ("Heroes", "Terminator: The Sarah Connor Chronicles") ou por Elizabeth Rice ("Mad Men"), mas prefiro não o fazer pois nãp se destacam dos demais de uma forma óbvia, mantendo-se todos num patamar médio em termos de qualidade. O mérito aqui cabe ao realizador Phedon Papamichael (mais conhecido pelos seus trabalhos como director de fotografia, em títulos como "Walk The Line" ou "3:10 to Yuma"), que com um bom trabalho de câmara e com uma gestão muito competente do ritmo do filme consegue trazer ao de cima o melhor possível de cada aspecto deste "From Within".

No capítulo técnico este filme consegue somar alguns pontos, com efeitos visuais muito bem conseguidos a adicionar ao já mencionado trabalho de câmara. A música cumpre na perfeição o seu papel, ao dar o tom dos acontecimentos e embalar a audiência neste sentido, sem nunca se tornar incomodativa.

Em suma, "From Within" é um título mediano no vasto catálogo de filmes de horror. É no entanto bastante competente naquilo que faz, e poderá merecer uma visualização dos mais fanáticos deste género de filmes. Pondere uma oportunidade ou evite-o, dependendo da sua preferência por este género.

O melhor: bom trabalho do realizador, atendendo às limitações.
O pior: torna-se repetitivo, o que prejudica a atenção da audiência.
Alternativas: Carrie (1976), Jacob's Ladder (1990), Frailty (2001)

Classificação IMDB: 5.7/10
Classificação RottenTomatoes: n/a

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Slumdog Millionaire (2008)

Género: Drama/Romance
Realizador: Danny Boyle
Com: Dev Patel, Freida Pinto, Anil Kappor e Irrfan Khan, entre outros.
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"Slumdog Millionaire" é a história de Jamal Malik, um órfão de dezoito anos de idade, crescido nos bairros de lata de Mumbai, a segunda cidade mais populada do mundo. Jamal concorre ao célebre programa televisivo "Who wants to be a millionaire?" ("Quem quer ser milionário?", em português), e está a apenas uma questão de conseguir ganhar o prémio máximo, vinte milhões de rupias. Mas será possível a um rapaz que nunca andou na escola e que cresceu como criminoso, vencer este concurso? Ou estará ele a fazer batota?

Por esta altura já todos devem pelo menos ter ouvido falar deste filme. Foi o grande vencedor da edição de 2009 dos Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América com oito estatuetas, entre as quais o de Melhor Filme e o de Melhor Realizador. É portanto óbvio que estamos perante um grande filme, certo? Não, na minha opinião.

Mas vamos por partes. Visualmente o filme está muito bom, sempre com cenas muito coloridas e com um excelente trabalho de câmara que salienta a riqueza indiana em termos de diversidade de cenários. A banda sonora também está muito bem escolhida, mostrando-se muito agradável e complementando muito bem todo o resto da obra.

No entanto, os restantes elementos de "Slumdog Millionaire" não estão a este nível. Um dos aspectos que destaco é a fraca relação emocional que cria com a audiência. "Slumdog Millionaire" limita-se a debitar várias cenas da vida de Jamal sem nunca prender os espectadores às personagens. De facto, é quase com indiferênça que vemos as cenas a passar à nossa frente: não sentimos compaixão quando Salim se redime e "muda" o seu coração, não sentimos tristeza quando vemos as pobres crianças a crescer no meio do lixo e a mendigar nas ruas, não sentimos alegria quando Jamal reencontra Latika... E porque é que isto acontece? Normalmente acontece porque as personagens são mal construídas, mas aqui as razões são outras: performances fracas dos actores e péssimos diálogos. De uma forma geral, praticamente todos os actores apresentam um desempenho medíocre, o que se nota mais nas personagens principais devido ao tempo que passam em cena. Dev Patel parece só ter uma expressão facial, Freida Pinto passa mais tempo a sorrir para a câmara do que realmente a actuar, Anil Kapoor tem uma postura de quem se acha o maior actor do mundo e as crianças nunca conseguem ser suficientemente naturais quando estão em cena.

Outro problema é um aspecto que eu normalmente critico nestes filmes que se desenrolam em países cuja língua oficial não é o inglês. Nas primeiras cenas é utilizado o hindi para as personagens comunicarem entre si, mas o problema surge quando estas começam a utilizar o inglês para se exprimirem, o que origina cenas inverosímeis como aquela em que Jamal, enquanto criança, se faz passar por guia para estrangeiros no Taj Mahal, comunicando com estes de um modo absolutamente perfeito.

Adicione-se a isto um argumento em que as situações encaixam que nem peças de um puzzle umas nas outras de um modo tão conveniente que se torna forçado, aliado a uma mão cheia de situações que seriam impossíveis de ocorrer se estivéssemos a falar da realidade, e o resultado final não parece muito famoso.

Mas então porquê o sucesso deste "Slumdog Millionaire"? Primeiro porque, na minha opinião, neste momento a Índia está na moda. Depois porque junta o espírito exuberante do cinema indiano às melodias exóticas desta cultura, fazendo disto pano de fundo para uma história de conto de fadas sobre a paixão entre dois jovens que cresceram na pobreza. O que há aqui para não gostar?

Como já devem ter compreendido, não posso recomendar "Slumdog Millionaire". Não é um grande filme, mas também não é um filme péssimo, sendo mais um exemplo de um filme mediano altamente sobrevalorizado. Se compararem "Slumdog Millionaire" com qualquer outro filme que tenha recebido o Óscar de Melhor Filme no passado percebem o que eu quero dizer.

O melhor: a música e o aspecto visual.
O pior: demasiado sobrevalorizado.
Alternativas: Earth (1998), Monsoon Wedding (2001), Cidade de Deus (2002)

Classificação IMDB: 8.4/10
Classificação RottenTomatoes: 8.2/10

sábado, 3 de outubro de 2009

Doubt (2008)

Género: Drama
Realizador: John Patrick Shanley
Com: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis, entre outros.
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Estamos em 1964. Na paróquia de St. Nicholas, no Bronx (New York), a Irmã Aloysius Beauvier gere com mão de ferro o colégio católico local, incutindo o medo e a disciplina como forma de garantir o correcto funcionamento da instituição. A chegada do Padre Flynn à paróquia vem abalar os preceitos instalados, pois este é um homem carismático que acredita que a Igreja se deve adaptar à sociedade em vez de se fechar sobre si mesma. Mas quando a inocente Irmã James partilha com a superiora as preocupações de que o Padre Flynn poderá estar a tornar-se demasiado próximo de um dos alunos, esta última embarca numa cruzada pessoal para que o padre seja expulso da comunidade.

"Doubt" é um daqueles filmes que nos leva a reflectir sobre a sua premissa. A história de uma freira conservadora que "condena" um padre mais liberal apenas com base num rumor ou em suspeitas sem qualquer prova. Teria ela razão para tomar esta atitude ou deveria esperar até que surgissem provas? E se quando essas provas surgissem já fosse tarde demais?

Esta história, só por si, já seria motivo de interesse para muita gente. Mas "Doubt" consegue a façanha de reunir um grupo de actores que catapultam este título para patamares de qualidade difíceis de alcançar. À cabeça surgem Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman, dois dos melhores actores do cinema americano actual. Hoffman, dono de uma carreira solidamente construída e com um Óscar em 2005 pela sua prestação em "Capote", é um actor com um carisma único que raramente decepciona. Meryl Streep, por seu lado, dispensa apresentação. Esta dupla de titãs é muito bem complementada por dois grandes valores da geração actual de actores, Viola Davis e Amy Adams.

Streep está absolutamente perfeita na pele da austera Irmã Aloysius neste "Doubt", com uma performance que lhe valeu uma merecida nomeação na categoria de melhor actriz nos Óscares de 2009. O afável Padre Flynn é encarnado por Philip Seymour Hoffman, que nos oferece uma performance tão realista que quase nos ficamos a questionar se este homem não será mesmo um padre e se aquela não é de facto a sua história. Sem surpresa, foi também nomeado em 2009 para o Óscar de melhor actor secundário. Amy Adams, para mim a luz deste filme, destaca-se pela inocência da sua personagem e pela sua dedicação a este papel, e consegue uma performance memorável também reconhecida pela Academia, que a nomeou para a categoria de melhor actriz secundária. Por último, Viola Davis: com apenas cerca de quinze minutos de ecrã consegue ser nomeada para o Óscar de melhor actriz secundária. A razão: o realismo da sua personagem, que apesar da breve aparição consegue tocar toda a audiência e elevar decisivamente o nível de qualidade do filme.

"Doubt" é apenas o segundo filme do realizador John Patrick Shanley, mais conhecido pelas suas qualidades como argumentista/escritor, mas a competência demonstrada neste filme só me faz esperar que nos volte a presentear em breve com mais fitas de grande qualidade. Em "Doubt", o realizador consegue a proeza de manter o argumento interessante e encoberto por uma fina névoa de mistério, tudo isto culminado com uma edição praticamente perfeita, com um enfoque nos diálogos mas sem nunca prejudicar o seu ritmo que, apesar de lento, se mostra completamente adequado.

Este é sem dúvida um filme que nenhum amante de cinema deve perder. "Doubt" é daqueles filmes que não surgem todos os anos, e só aqueles que preferem experiências mais supérfluas e imediatas não o conseguirão apreciar. Recomendo-o sem qualquer "dúvida".

O melhor: as prestações dos actores.
O pior: o início é algo lento, demorando a cativar a audiência.
Alternativas: Priest (1994), The Crucible (1996), Notes on a Scandal (2006)

Classificação IMDB: 7.8/10
Classificação RottenTomatoes: 6.9/10

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Inglourious Basterds (2009)

Género: Acção/Drama/Comédia
Realizador: Quentin Tarantino
Com: Brad Pitt, Christoph Waltz, Mélanie Laurent e Eli Roth, entre outros.
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"Era uma vez, na França ocupada pelos Nazis...". Assim começa o mais recente filme de Quentin Tarantino. Este filme relata-nos a epopeia de um grupo de soldados judeus norte-americanos, conhecidos como "The Basterds", liderados pelo frio Tenente Aldo Raine. Este grupo tem apenas um objectivo: matar Nazis. Paralelamente, o filme relata-nos ainda a história de Shosanna Dreyfus, uma jovem judia que tenta escapar às garras do Coronel Hans Landa, um oficial das SS sem escrúpulos que ganhou o épiteto de "O Caçador de Judeus".

"Inglourious Basterds" baseia-se numa obra praticamente esquecida de Enzo Castellari, "Quel Maledetto Treno Blindato", conhecida nos Estados Unidos como "The Inglorious Bastards". Quentin Tarantino terá começado a escrever o argumento para este filme há cerca de dez anos, com algumas paragens apenas para se dedicar a outros projectos como "Kill Bill" ou "Death Proof".

E o resultado é francamente muito bom, na minha opinião. Há inclusive quem o aponte como o melhor filme de Tarantino. Eu não vou tão longe, mantendo "Pulp Fiction" no primeiro lugar do meu top e "Reservoir Dogs" numa disputa cerrada com este "Inglourious Basterds" na luta pela segunda posição.

Mas foquemo-nos naquilo que "Inglourious Basterds" tem para nos oferecer. Em primeiro lugar temos um Brad Pitt num grande momento da sua carreira. De facto já há algum tempo que venho a dizer que Brad Pitt é neste momento o actor mais versátil de Hollywood, capaz de encarnar as mais distintas personagens sempre com um nível de qualidade bastante elevado. E neste filme Pitt faz jus à sua reputação, encarnando na perfeição o tenente rufia vindo do Tennessee. Ficarão decerto na memória cenas como aquela em que discursa perante os "Basterds" perfilados, ou uma outra em que tenta falar italiano. Cristoph Waltz é uma grande surpresa, e um dos principais focos de interesse da película. Na pele de Hans Landa, o poliglota oficial Nazi, Waltz brinda-nos com uma excelente performance que o poderá levar à conquista de um Óscar. Quase aos 55 anos de idade, este austríaco praticamente desconhecido que fez carreira fundamentalmente no seu país natal e na Alemanha poderá começar a fazer as malas porque propostas de Hollywood não lhe deverão faltar neste momento. Estas são as performances que mais se destacam, mas há sem dúvida muitas mais personagens que mereceriam uma menção, como as desempenhadas por Mélanie Laurent, August Diehl ou Denis Menochet, só para citar alguns.

Depois, temos tudo aquilo que identifica o cinema de Tarantino. O excelente trabalho de câmara, os diálogos geniais, as situações bizarras, a violência a rodos e o humor negro, tudo isso está presente neste "Inglourious Basterds". Nota-se de facto um amadurecimento de Tarantino na realização desta obra, que já não é só um homem que alguns chamam de imaturo, que encontra na 7ª arte o seu recreio. Sem decepcionar os seus fãs, o argumentista/realizador/produtor dá um passo em frente na sua carreira e mostra mesmo aos mais cépticos que sabe fazer cinema de grande nível.

Não poderia terminar este texto sem deixar ainda uma menção para a banda sonora deste filme, em especial para a participação de Ennio Morricone que, como sempre, nos traz melodias de elevada qualidade, a roçar a perfeição.

Por tudo isto e muito mais, este "Inglourious Basterds" é um filme a não perder, e que recomendo sem pensar duas vezes. Podem chamá-lo de pretensioso, narcisista ou demasiado gráfico, mas veja-o e tenho a certeza que não ficará decepcionado.

O melhor: Cristoph Waltz; qualidade geral do filme.
O pior: acaba por parecer demasiado familiar aos fãs de Tarantino, o que faz com que muitas vezes não consiga surpreender e se torne previsível..
Alternativas: The Dirty Dozen (1967), Patton (1970), Force 10 From Navarone (1978)

Classificação IMDB: 8.6/10
Classificação RottenTomatoes: 7.6/10