terça-feira, 30 de junho de 2009

Synecdoche, New York (2008)

Género: Drama
Realizador: Charlie Kaufman
Com: Philip Seymour Hoffman, Michelle Williams, Samantha Morton e Tom Noonan, entre outros.
Página oficial
Trailer
Poster encontrado aqui.

Caden Cotard é um encenador que prepara uma nova peça de teatro. Esta peça alcança um tremendo sucesso, mas Caden não consegue desfrutar deste acontecimento pois o seu ambiente familiar não está a atravessar os melhores dias. Adele, a sua esposa, é uma talentosa pintora que se sente sufocada com a vida que leva, e parte para Berlim com Olive, a filha de ambos, e Maria, uma amiga, para um suposto período de reflexão e liberdade artística. Mas findo o período acordado, Adele não regressa. Pior, Adele recusa-se a comunicar com Caden e não lhe possibilita o contacto com a sua filha. Num momento de profundo desgosto, Caden Cotard é surpreendido com a notícia que havia ganho o prestigiado prémio MacArthur, que lhe garante uma avultada quantia monetária para investir num projecto. Caden parte então para New York com uma nova peça em mente, uma peça com um realismo e uma honestidade ímpares, à qual se vai dedicar de corpo e alma.

"Synecdoche, New York" é uma autêntica viagem para os sentidos. São aproximadamente duas horas de surrealismo, paranóia, hipocondrismo, amor, humor e sofrimento. O argumento denota uma clara influência kafkaniana, e a espaços faz lembrar algumas das obras de Woody Allen. Tudo isto provêm da mente brilhante de Charlie Kaufman, criador do argumento de "Being John Malkovich", e que já havia tentado algo semelhante com o argumento de "Adaptation", também da sua autoria. De facto, tratando-se este filme da estreia como realizador deste autor, este quase pode ser considerado um "Adaptation" exponenciado.

A chave para a compreensão deste filme inicia-se logo com o seu título. "Synecdoche" (sinédoque, em português) é uma figura de estilo que consiste em exprimir a parte pelo todo ou o todo pela parte, como quando dizemos "os olhos da lei" referindo-nos à polícia, ou "os braços contratados" para referir os trabalhadores. E é precisamente isto que o filme tenta fazer, tentando representar toda a condição humana numa peça de teatro.

Admito, não é um filme fácil de ver, e várias vezes durante a sua visualização fui acometido de pensamentos como "Mas o que é isto?" ou "Isto não faz sentido nenhum!". Mas este aspecto é, na minha opinião, um dos objectivos do filme. Questionar todas as situações, procurar as mensagens subliminares e buscar uma interpretação para aquilo que se passa no ecrã, contrapondo-o com a condição humana.

O filme é, porém, um pouco pretensioso em demasia. Entra com coragem em terrenos difíceis, enquanto troça dos clichés e do intelectualismo bacoco que pulula no mundo da arte mas, paradoxalmente, ele próprio vive deste universo. A duração do filme é ela própria verdadeiramente avassaladora, e poderá desagradar a uma parte da audiência, mas convenhamos, relatar uma história de quarenta anos em apenas duas horas, com a atenção ao pormenor com que o faz, é obra.

A nível cénico, o filme está muito competente, com vários ambientes distintos bem conseguidos, embora limitado pelo espaço físico a que o argumento o restringe. E a caracterização dos actores também está muito boa, transmitindo perfeitamente a sensação de envelhecimento dos personagens, e contribuindo decisivamente para a qualidade final do filme. Mas o destaque recai forçosamente no realizador (e argumentista, simultaneamente) e nos actores. Philip Seymour Hoffman está brilhante no seu papel, e muito bem acompanhado por uma mão cheia de personagens secundárias, tornando-se no veículo transmissor ideal do génio de Charlie Kaufman.

Se a ideia de ver um filme que desafia todas as regras do cinema de Hollywood, enquanto fica atónito com a quantidade de informação que é debitada no ecrã de forma surreal, o agrada, então este é um filme para si. Aos olhos de duas pessoas diferentes, "Synecdoche, New York" pode ser simultaneamente uma obra-prima e um acto de auto-indulgência completamente disfuncional.

O melhor: Charlie Kaufman e Philip Seymour Hoffman.
O pior: confuso e muito longo.
Alternativas: American Beauty (1999), Adaptation (2002), Big Fish (2003)

Classificação IMDB: 7.5/10
Classificação RottenTomatoes: 6.6/10

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